Já chorei apresentando seminário na universidade. De outra vez, travei. Não chorei, mas também não consegui continuar a apresentação. O professor ficou com pena. Morri de vergonha. Morro de vergonha até hoje de falar em sala de aula, apresentar trabalho. Lecionar é outra história. Fico com vergonhinha no começo, mas logo me sinto em casa. Você vai conhecendo os alunos e certamente conhece melhor o tema. É diferente de chegar lá e apresentar, na tora, o resultado de seu trabalho. Tem que ser logo e sem enrosco. Na aula é tudo mais macio.
Acho que é por isso que muitas vezes sentimos que dançamos melhor em sala de aula do que no palco. Porque o palco é um pânico mesmo. Minha última apresentação foi bem mais-ou-menos. “Ah, foi lindo!”, dizem os amigos e colegas, todos super políticos ou simplesmente bonzinhos. Só Marido deu a real: você dança mais que aquilo (ele também fez uns comentários menos benvindos sobre minha roupa e meus pneus, mas isso é outra história). Claro que tem dia que você chega lá e arrasa. Mas sempre pode rolar algum desconforto. Ou é a experiência do palco em si – você lá na frente, sozinha, diante de um público, seja lá qual for – ou você pisa na saia, ou você perde o equilíbrio ou simplesmente não sabe pra onde olhar.
A gente aprende com os erros. De meu último show, aprendi que a saia tem que ser mais curta. Não caí não; só fiquei insegura, com medo de pisar na bainha. Daí a dança ficou toda contida, meio com cara de coreografia “dos outros”. Sua roupa tem que ser sua amiga, não um motivo de distração. Porque tudo o que você precisa num palco é concentração e ensaio. Tive ensaio pra chuchu, mas comprei a roupa de última hora e subestimei o potencial de insegurança que uma barra comprida tem.
Pra onde olhar é outra coisa chatinha para quem está pouco habituada ao palco. Porque ficar pensando nisso tambem distrai. Dança do ventre tem muito a ver com contato direto; às vezes dançar no nível do público tem suas vantagens – você tira muito de sua expressão da interação com o público (bom… tem público que dá vontade de chorar…). No palco, somos nós e a música. Olhar pra onde? O ballet clássico aí tem a manha: pra frente, lá em cimão, onde ficam os técnicos de luz e som, sabe? Não sou muito boa nisso, de olhar ao longe, mas sei que é A estratégia para quando você está centralizada no palco, em uma coreografia mais distante. Acho que se sua coreografia prevê idas estratégicas à beirada do palco, então devemos nos comunicar com a galera do gargarejo. Mas isso vale mais para baladi, shaabi, performances mais soltas.
Mas a real é que todo mundo fica inseguro quando sobe num palco. Do profissional mais experiente à menina que ouve um “merde” pela primeira vez. Porque o palco é também uma espécie de banca. Você mostra seu melhor, às vezes vacila, mas na maior parte das vezes tudo sai bem. Como na banca, há os que te apoiam e também, escondidinho na platéia, vai ter quem te julgue brabo. Metáforas fora, palco dá frio na barriga como o dão momentos importantes da vida. E todo mundo fica com medinho. Tem gente que diz que não; que tá tremendo é de frio. Mas a gente sabe que isso é só charme.
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