Às vezes penso com calma na diferença entre Suheir Zaki e Jillina, por exemplo. Bom, as diferenças são evidentes em vários níveis, eu sei. Quando cito a Suheir Zaki, estou também me referindo à Najwa Foad, à Tahia Karioka, à Lucy, à Dandash etc. Jillina, para mim, remete também à Saida, à Ansuya, à Kahina, à Raqia Hassan (!!!!sim. É egípcia, mas, lendo o post todo, dá para entender melhor).
Estou tentando acessar um tema até já batido, mas nunca sei como abordar. Até porque as meninas do nosso meio se melindram muito facilmente. Tá, vou direto ao ponto. O negócio é: por que há mais gente interessada em estudar Jillina do que a Suheir?
Sempre ouço que andam estudando a Saida, as superstars, algumas (poucas) brasileiras… e só. Poucas se encantam com as egípcias de dança livre. Acho que é a síndrome da dança-lego, como falo com minhas alunas. Dança-lego é aquela dança cheia de combinações de passinhos ensinadas nos dvd’s das famosas. As americanas têm até um nome para essas combinações: combo. É, o mesmo nome que tentam nos empurrar goela abaixo nas lojas de fast-food. É a fast-dance.
Combinações podem ser úteis. Desde que as inventemos em nossas próprias coreografias. Aquele “combo” de batida lateral com chute da Saida (usada no final de Tamiil) tá ficando cansativo. Como as combinações da Raqia, cheias de ondulações contrárias, tremidos, arabesques rebuscados. Quando a menina dança uma coreografia cheia dos combos, parece sinalizar que a bailarina estudou bem a última moda e tal. E daí? Mata tempo e é bonito, claro. Bem higiênico, sem riscos. O chato é que tudo passa a parecer igual. Sabemos que poucas dançarinas do ventre realmente conseguem mostrar personalidade na dança. Por que? Aí o buraco pode ser mais embaixo: vários fatores, como falta de reconhecimento do contexto da dança, desconhecimento da música, uniformização do visual (mal que não ataca somente dançarinas do ventre) e… padronização da dança. E cá estão os combos. Na fast-dance, sente-se a mesma emoção onde quer que se esteja – como o famoso bordão “um bic mac é um big mac em qualquer canto do mundo”).
Não conheço combos da Suheir Zaki. Tenho aqui um dvd dela que todos deveriam ter. É um show completo, bem bacana. Em geral, estamos acostumadas a ver trechos de filmes, não vemos o modo como a bailarina se desenvolve ao longo do show. Ela simplesmente dança, não fica vendendo combinações.
A dança-lego é engessada como as construções dos bloquinhos desse brinquedo. Bonitinho, curioso, mas sem alma. Acho que as bailarinas têm um pouco de medo de ousar. Talvez seja vício de sala de aula – é bem mais fácil ensinar coreografias através de bloquinhos que vão se combinando. Mas talvez na hora de dançar nosso próprio solo devêssemos fugir disso e tentar montar, nós mesmas, nossas combinações. Livres, arriscadas, complicadinhas, mas com nossa cara.
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