… Ou melhor: quem você quer ser? Na dança do ventre, não dançamos uma música qualquer. À medida que vamos conhecendo a diversidade musical e estilística da dança, percebemos que a expressão e o sentimento precisam variar. Não dá para dançar “Batwaness Beek” com a mesma energia, expressão e empolgação com que dançamos “Talakik” (ou qualquer outra do Hakim), por exemplo. Nem plantar uma cara de sofrimento para dançar um shaabi (aliás, cara de sofrimento deveria ser banida fora do Egito. Mas deu pra entender, né?).
Expressão não surge do nada. Emerge da emoção que a música te traz. E não acontece só no rosto; a bailarina precisa convencer o corpo todo de que ela é o que a música diz. Nessa, a bailarina pode ter algo do ator: cria personagens ou traz à tona partes de sua personalidade. Porque pouca gente é uma coisa só todos os dias. Experimentamos várias maneiras de nos endereçar ao mundo: somos mal-criadas às vezes com a atendente de telemarketing (Pô, ela precisa parecer robô sempre? Morro de pena quando sou grossa, mas puta merda…); um poço de gentilezas ao conhecer um novo gatinho; uma rainha perto da colega de trabalho xarope que dá vexame em reuniões; uma lavadeira ao falar mal da vida com a melhor amiga… e por aí vai.
Na dança é a mesma coisa: podemos ser qual suburbanas quando dançamos um shaabi; fadas quando dançamos uma música clássica etérea; mulher fatal num solo de derbake daqueles bem impactantes; doces princesas na descoberta de um baladi. Ou o que a imaginação mandar. Inclusive mocinhas contemporâneas, seguras de seu poder, que brincam com sua sexualidade, cheias de quereres, quando interpretamos uma música periguete.
Sempre brinco disso em minhas aulas. No ano passado minha turma de intermediário virou lavadeira até julho – aprenderam fallahi, dançaram com o jarro e foi su-ces-so. A partir de agosto, precisaram incorporar uma bela, doce e etérea princesa de contos de fadas – dançaram uma música clássica, com saia rodada, esvoaçante, cheias de giros, arabesques e movimentos aéreos. Adoraram. Assim a gente vai conhecendo nossas possibilidades.
Nesse semestre devo trabalhar meleah laff. A mulher que, como muito bem explicou a Lory, pode ser suburbana ou burguesa, mas é sempre despachada. Bora colocar essa mulher pra jogo! Em cima do palco, podemos ser quem a gente quiser.
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