Sobre roupas, notícias mal dadas e dois vídeos

Ontem fui à nossa 25 de Março comprar itens para o atelier. Tecidos loucamente lindos, lantejoulas, vitrilhos, cristais, strass, linhas, bojos, araminhos e coisas automotivas que nem em meus mais obscuros sonhos eu imaginava que fizessem parte da produção dos diáfanos figurinos de dança do ventre. E ontem eu entendi direitinho o porquê dos preços aparentemente delirantes de nossas roupitchas. É tudo caro para chuchu. Sério, você sabe quanto custa um pacote de Jablonex? Porque isso é outra coisa que aprendi: roupa profi tem que ser feita com jablonex, porque a miçanga ou o vitrilho importados simples (não, não há produção nacional, pelo jeito) descascam, são irregulares, não fica bão mesmo. Pois é. Sabe quanto custa? Muitíssimo. E o tal do acoplado (coisa para fazer alguns sutiãs e cinturões)? Uma fortuna. Sabe aquela telinha que a gente usa nos macacões para aula e em algumas roupas? Uma fortuna. Vivendo e ficando sabendo.

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E aquela reportagem sobre as dançarinas brasileiras presas no Líbano sob acusação de prostituição me incomodou muito. Porque é tosca demais, nada informativa. E não atualizaram. Jornalismo de boteco, que não informa, só sobressalta. Estavam indo para um festival de dança e música em Baalbek e vinham de Dubai. Foi só o que a reportagem falou. Não sei de mais nada. Nem sabia que eram bailarinas do ventre até receber mensagem encaminhada por uma bailarina brasileira conhecida justificando o acontecido, afirmando ter sido uma armação, que alguém havia denunciado fraudulentamente suas colegas à Interpol. Mas suspeitamos que a Interpol não chega prendendo sem uma investigação minuciosa. Podem errar, claro. O negócio é que, pelo sim, pelo não, fica muito chato para as que trabalham sério, vão lá, cumprem seus contratinhos e voltam para o Brasil com mais bagagem depois de terem suado muito e aturado gerentes toscos. Prostitutas há em todo lugar. Não condeno prostitutas. Condeno a confusão de imagens em uma dança já tão mal-compreendida. Certamente, pela reportagem, o cidadão comum, consumidor de dança do ventre, dificilmente se toca de que é um bafão desse meio. Mas quem é de dentro sabe, se emputece e, pior, fica com menos da metade de uma informação. Lixo.

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Tem um documentário bacana feito pela National Geographic com a Soraya de protagonista. Muito legal messs. Tem instruções para assistir.

1. Clica nesse link.

2. No menu à direita, clica em “Videos by category”.

3. Menu à direita, clica em “Travel and Cultures”. Uma nova janela abrirá.

4. Clica em “culture”.

5. Clica em “arts and entertainment”.

6. Aparecerão alguns videozinhos à direita. O da Soraya chama-se “Cairo Belly Dancers”

Agora, minha impressão do vídeo. Ele se propõe a ser meio que uma introdução à história da dança do ventre. E vem com aquela lenga-lenga de origem milenar e de dança surgida de um exercício pélvico. Me impressiona muito ver esse tipo de dado solto repetido à exaustão. Porque o chato de ter formação em pesquisa é isso: a gente não se encanta fácil por qualquer fragmento de informação. Tem que ter fundamentação teórica e empírica, senão é só artifício literário de segunda mão. E eu, paladina da justiça, da bondade e da beleza, interessada que sou em trazer à tona o lastro cultural e político da dança do ventre como um bem contemporâneo, quase me desespero ao ouvir esse tipo de merde fantasia.

Maneiríssimo terem mostrado a loja mais tradicional de fabrico de alaúdes. A reportagem é superficial, mas dá para ter uma noção de como já foi popular e fervilhante a rua Mohammed Ali. O vídeo dá também uma visão geral de como o crescente conservadorismo religioso tem visto a dança do ventre (outra coisa: a palavra “haram”, traduzida pela reportagem como tabu, é melhor entendida como “não-permitido”; faz oposição a “halal”, que se traduz por “permitido”).

Estranhos tamanquinhos a Soraia usa durante as aulas, não?

Adorei ver a Lucy de antigamente, por míseros segundos, inserida no vídeo. É o trechinho de um excelente documentário da Natgeo de meados dos anos 90 chamado “Cairo Unveiled”. O melhor de todos, que nunca mais encontrei em lugar nenhum. Emprestei minha fita de vídeo a um amigo e bau-bau. Nunca mais vi.

O vídeo é curtinho, mas bacana por ter como protagonista uma de nossas profissionais mais amadas – e, de longe, a mais bem-sucedida.

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E tem já um videozinho do “Jadid”, show do Ayuny. É o tribal da Ana Luiza, uma de nossas lindas professoras. O público se amarrou. A Ana, além de fantástica bailarina do ventre, é uma excelente performer. Artista mesmo, que se transforma em personagens no palco.

Olhaí:

Teremos um dvd, com imagens profissionais, mas ainda não foi entregue.

7 respostas para “Sobre roupas, notícias mal dadas e dois vídeos”.

  1. A brasileira tem fama de puta em qualquer lugar do mundo. Brasileiras que dançam dança do ventre então são “prostitutas” duplamente qualificada. Um grupo saindo de dubai dizendo q são dançarinas?Acharam que eram prostitutas mesmo. Não dúvido que tenha ocorrido assim. Mas como eu disse, tudo é possível. Tbm me pergunto se a interpol é tão leviana assim. Brasileira envolvida com prostituição tem no mundo inteiro, só ir para europa e ver. Não é caso exclusivo da dv.

    Acho natural, triste, mas natural que a imagem da dançarina seja confundida com a da prostituta. Nos países de maioaria muçulmana, com restriçoes na vestimenta, com regras e traços culturais diferente do nosso, fica fácil assimilar que: dançar “semi-nua” no palco com movimentos sinuosos, a noite e em locais em que o simples ato de mostrar o cabelo é extremamente sensual, bom, não tem como não pensarem que somos prostitutas. Para “nós” ser prostituta é fazer sexo por dinheiro. Talvez para “eles” o significado seja mais amplo. O islã valoriza a modéstia feminina que foi sendo associada ao “cobrir-se”. Fora do Egito a bailarina tem q mostrar o corpo. E se mostrar?As caixinhas aumentam!

    Me pergunto até onde muitas das brasileiras que dançam fora tentam respeitar algumas “regras” locais. Sei lá, morar no yemen e esperar sair de blusa de alcinha na rua pq tá sol, não me parece muito razoável. Especialmente se vc for para os redutos mais populares. Acho que falta esse “bom senso”. Afinal, o mundo árabe não é feito de egito, libano e dubai…rs…

    Sobre o material de roupa, material de qualidade não é barato. Infelizmente. Vou ver o video da soraya, obrigada pela dica!

    Adorei o comentário, Juli. De fato, fico meio de cara quando vejo blogs ou outras fotos das meninas em viagem pelo mundo árabe se vestindo como se estivesse no Rio. Um misto de ingenuidade e arrogância. Na casa dos outros, devemos procurar respeitar as regras dos outros. Básico.

  2. Ro, arrasou, mais uma vez!
    Seu bom senso sobre os preços das roupas foi incrível! Cansei de ter que explicar para as bailarinas que uma roupa ‘cara’ não é uma simples exploração, é uma diferença grotesca de qualidade em relação às roupas ‘baratas’, muito bom mesmo!
    Menina, venha pra Sampa pelo amor, precisamos conversar pessoalmente!!!
    Beijos

    Vou sim, lindona. Assim que resolver os inacreditáveis pepinos que tenho enfrentado com funcionárias. Prosearemos muito. Quanto às roupas, é o cúmulo pensar que tem professora que ainda deixa aluna comprar roupa em feira. Aquelas de “prástico”. Nuuuu! Mesmo com pouca grana dá para fazer uma roupa bonita. Claro, há a diferença entre roupa de turma e roupa de profissional. Mas não é porque é estudante que tem usar roupa descartável.

  3. Avatar de As aventuras de uma brasileira no Egito - Barbrinha
    As aventuras de uma brasileira no Egito – Barbrinha

    Demorei, mais cheguei……

    Lindona, que pena essa das brasileiras, assiste o video e vi tbem que nao tem informacao alguma…..

    Sera que elas ja estao de volta?

    Que Deus as proteja neh?

    Beijos e fiquem com Deus

    Barbrinha

    Lindona, parece que já estão de volta a Dubai e bem. Torço para que tenha de fato sido um mal-entendido. Uma pena mesmo é não termos tido maiores informações. Ou mesmo desculpas diplomáticas. Péssimo, enfim.

  4. Valeu pela dica do vídeo da Soraya.

    Dá um alívio não ser profissional e não ter que investir tanto em roupas! Prefiro gastar meu dindim em aulinhas. ^^

    Mas não há o que pague se apresentar linda e maravilhosa, amiga. Uma roupa bem cortada e bem bordada valoriza muito a dança. Claro que ela não dança sozinha. Mas faz sua parte muito bem na construção da fantasia – a nossa e a de nosso público.

  5. 1- Roupa boa sai caro. Já entendi isso ha tempos nesse nosso mundo da DV. Minha última tá quase em 500 e nem tá pronta ainda! [mas está a meu gosto e diferente..aí vale mesmo!].
    2- lamentável. O ocorrido e tbm a falta de informação…eu nem sabia, e provavelmente nem ia ficar sabendo! Sobre parecer prostis… sim, algumas parecem fazer questão de se parecem com. Se isso dá furdunço? magina se não!
    3- Vou conferir agora!

  6. as francesas foram as putas do passado, depois as polacas, as brasileiras são hoje,?Tudo bem, é porque nenhum árabe quer fuder uma arabe e nem um norte americano uma norte americana, a mulher, é BRASILEIRA!….O resto é um monte de cosméticos…Viva a vida !!!

  7. Oi…
    Vim roubar -com todo o respeito- seu vídeo pra pôr no blog e indicar pras alunas. Passa lá depois se quiser, pra dar uma espiada. Beijos!

    Que honra!!!

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