Há algum tempo escrevi um pequeno guia de construção coreográfica. Com a proximidade do nosso novo espetáculo e o desenvolvimento de minhas alunas, tenho pensado melhor no assunto. Gosto muito de coreografar e o faço sem maiores dificuldades. Minhas dúvidas são quase sempre em relação ao espaço cênico de que disponho.
Daí que algumas alunas minhas cursam também o intermediário B (dou aulas no inter A e no iniciante) e precisam começar a desenvolver capacidades autorais na dança. Ou seja, precisam fazer suas próprias coreografias. No meu curso estimulo as meninas a construir suas seqüências, com menos cobranças do que no inter B (que deve, sim, se empenhar em fazer a aluna construir seu próprio estilo, já que estão se encaminhando para o avançado). E mostram interesse em aprender sobre o processo de construção coreográfica. Aí vão, então, minhas dicas, acrescentando mais elementos do que no artiguinho anterior:
1. Do macro ao micro: ouça a música e a desconstrua por momentos: se você está trabalhando uma música pop, observe as partes 1, 2 e refrão. Se é uma música clássica, mais complexa, identifique a introdução, a entrada, o desenvolvimento, a digressão (taksim ou folclore) e o retorno à melodia de entrada. De todo modo, por cima, de primeira ouvida, observe os momentos de calmaria e de energia. Pense em um rascunho de dança. Apenas depois desse exercício passe para as estrofes. Delas, às frases; daí, às minúcias.
2. Identifique partes-chave da música: Há momentos impactantes e momentos morosos, às vezes tediosos. Identificando esses momentos, você poderá distribuir melhor seu repertório coreográfico.
3. Distribuição da atenção: A maior parte das músicas para dança do ventre se compõem em base (ritmo), melodia e arranjos (às vezes, harmonia, que é um conceito complicado e não entendo tão bem). Veja qual deles se sobressai em cada momento: ele é seu guia.
4. Aonde vai o quê: O ritmo deve guiar seu pé. É a parte terrena, raiz, da música. A melodia, aérea, guia a parte superior do seu corpo. A harmonia ou arranjo está nos detalhes. Isso não é uma regra; é apenas uma leitura recorrente.
5. Foco: Ouça a música com fone de ouvido. Capte tudo. Não fique louca querendo transpor todas as notas musicais em seu corpo; siga o som mais vibrante, sem jamais ignorar as molduras deste som.
6. Discernimento: Cada espaço de show requer uma apresentação diferente. Palco, restaurante, festa e chá requerem abordagens completamente diferentes.
7. Anote: Desenvolva uma notação. Dê nomes aos movimentos e compartilhe esses nomes com suas alunas ou colegas. Não há rigidez na notação coreográfica da dança do vente, extremamente fluida. Não se queixe disso; aproveite essa liberdade e solte seu verbo. Escrever a dança é muito importante; é, afinal, a base da coreografia. Não se vicie em um modo única. Durante muito tempo, apenas anotava os passos e a minutagem. Atualmente gosto de desenhar, como podem ver na imagem acima.
Nada disso é regra. É meu processo criativo que compartilho com a geral. Espero que seja útil. Pra mim é.
Clicando nas imagens você as vê em tamanho maior. Esse é um rascunho para a coreo das minhas alunas de nível intermediário (o mesmo nível da coreo anterior, a do jarro). Como poderá ser visto posteriormente, muuuuuita coisa vai mudar. ^_^
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